quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O GAÚCHO

Troteando pela internet, me deparei com um trecho de uma pesquisa de Pedro Ari Veríssimo da Fonseca do livro “O Gaúcho quem É...”.


"O gaúcho, típico habitante da pampa, é um homem e não um mito. Tinha aptidões, caráter e um comportamento que admiravam, a ponto de cultuarmos esses predicados; coragem sem limites, rusticidade própria de dois puro-sangues cruzados. Embora sob o ponto de vista sociológico, genericamente, sejam tratados como um grupamento humano heterogêneo, de comportamento  homogêneo, principalmente pelos escritores de fala espanhola, porém esta heterogeneidade deu-se a custa de uma minoria ou interesseira, ou de criminosos, ou mesmo ambas as coisas.
            As aptidões campeiras e guerreiras do gaúcho foram, simplesmente aproveitadas pelos grupos oficiais, não oficiais e marginais de europeus. Conforme a função exercida por um grupo, o gaúcho era classificado. Se acompanhando um exército, era um guerreiro temível, se acompanhando caçadores de gado, um campeiro inexcedível, se acompanhado de marginais assim também o classificavam.
            ORIGEM – Resultante do cruzamento do homem europeu com a mulher índia, geralmente guarani ou guaranizada. A mulher européia é elitista, de preferência não se acasala com homens de outras raças ou de outros continentes.
            ORIGEM GEOGRÁFICA – O tipo social originou-se em torno da Colônia do Santíssimo Sacramento, fundada pelos portugueses com a finalidade de tomar posse dos campos situados à margem esquerda do Rio da Prata. O tipo social gaúcho teve a origem em território sob o domínio, de fato, dos portugueses, que mais tarde foi trocado pela região missioneira, à esquerda do Rio Uruguai.
A matriz para a comunicação da mestiçagem, no Brasil, não foi extinta. Diante do fato, o governo português autorizou o casamento dos soldados portugueses de sangue limpo com índias missioneiras de sangue limpo. Construiu educandários e entregou-os a religiosas. Estas educaram as jovens índias em prendas domésticas e nas primeiras letras, preparando-as para assumirem o lar dentro dos padrões da cristandade e dos costumes portugueses.
            O português foi quem iniciou o contato diário, contínuo e de longa duração com o tipo social gaúcho em sua formação, em função da Colônia do Santíssimo Sacramento. Após o traçado das fronteiras, deu continuidade a esse contato pelo acasalamento do homem europeus com as índias, casando-os, agora, sob a proteção das leis portuguesas e dentro dos princípios da doutrina de Cristo.
            O sesmeiro dos campos da campanha rio-grandense, geralmente militar, absorveu a mão de obra gaúcha e continuou fazendo arreadas para provar os campos que lhe haviam concedido. Este fato só reforçou a mentalidade do gaúcho de que os gados eram Res Nullius, ou reiúnos (animais sem dono) na acepção de Cornélio Pires.
            O gaúcho, das arreadas para courear e sebear, apenas mudou para arrear e invernar; e depois courear, sebear e charquear. O que mudou foi o aproveitamento da carne.
            As lutas militares continuaram as mesmas para o mestiço, que nasceu com elas em 1680 e que continuaram até 1893, com a Revolução Federalista. Daí em diante, o tipo social vaqueiro-guerreiro se dilui nas estâncias como peões e esquiladores; nas charqueadas, como tropeiro e safrista.
O fato das sesmarias de fronteira terem sido concedidas a militares foi altamente positivo para a firmação do caráter do gaúcho e para a formação da mentalidade dele. Os militares, educados para o mando e para a obediência, incutiram este mesmos princípios na mente do gaúcho, fundamentais para manter em ordem a imensa campanha.
             Os mestiços foram mantidos em estado de alerta, sempre! Para o gaúcho, a luta armada é-lhe irmã gêmea. No período de 1860 a 1893 o gaúcho participou de todas as lutas internas e externas. Serviu a pátria como guerreiro e não como militar. Perante a pátria, ele não teve direitos, teve deveres. Sem nada receber pelos serviços prestados, deixou como herança o caráter e a mentalidade.
            Contudo, o matrimônio, o ajuntamento da índia com o soldado, as guerras contínuas, a diluição nas estâncias e a evolução social foram os fatores determinantes para o desaparecimento do tipo social gaúcho primitivo."

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